DOIS POEMAS DE SIDNEI OLÍVIO

 









A VIDA SE APRESSA PARA A NOITE

 

Na derrocada das chuvas

a dama-da-noite espalha em silêncio

seu branco perfume.

 

Aguarda o prematuro outono

enquanto respira a madrugada

das alamedas solitárias

 

onde edifícios se erguem

e tombam.

Em seus rastros, o espaço

 

e velhas pedras para novas construções.

Velhos jardins para novas damas

(terra convertida em carne e osso.)

 

Há um tempo para viver e desejar

e um tempo para o vento

sacudir folhas, flores

 

e carregar para além das esquinas

a luz perfumada que se declina

nas sombras da tarde.

 

 

 

O ESPÓLIO DA EVOLUÇÃO

 

“Todas as qualidades, corporais e intelectuais,

devem progredir para a perfeição.”

 

Charles Darwin

 

Lamarck dizia 

o que não se usa atrofia

(a velha história do pescoço das girafas)

e pela lei hoje em desuso

pagou pelo crime de improbidade

 

graças à Darwin

que depois de longa viagem

apurou a vista

selecionou as castas

e afiou o bico desafiando a criação

(a velha história de Eva e Adão)

 

: pôs um macaco

na ponta de uma corda

e o homem na outra

depois legislou —

a vida é uma eterna luta 

e o mais forte é sempre vencedor

 

Darwin paga hoje a conta de Lamarck

pois juntando ciência e criação

o homem meteu os pés na lua

fez do mundo a sua rua 

(a velha história da semelhança com Deus)

e cava na terra a própria cova —

o prêmio final ao invicto competidor

 

 

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