DOIS POEMAS DE SIDNEI OLÍVIO
ICONOGRAFIA DA RUÍNA
nuvens
cinzas despencam
sobre
casas e quintais
encobrem
terras semeadas
veias
de folhas e troncos
ossos
de animais
se
misturam no campo incinerado
mantidos
sem legenda
aves
aflitas abandonam
seus
ninhos calcinados
sob
a sombra da fumaça
que
jamais se dissipa
transita
o derrotado curupira
enquanto
a tépida luz da tarde
é
absorvida pelo carvão
a
noite chega prematura
no
enuviado silêncio das estrelas
nenhum
atalho leva ao rio
o
percurso de pesados pés
é
somente pó e alvoroço
(a
origem do barro contestada
pela
sacra melancolia)
desperta
enfim o sol
e
desponta o dia em meio à neblina
vento
da aurora
esparrama
o calor
seca
as folclóricas lágrimas
da
lenda que ali resta
por
princípio e fim
foi naquele bar de sempre
que a atração terminou
entre frases desconexas
lapsos de memória
goles mal tragados da bebida
descendo quente e amarga
foi naquele bar de sempre
numa noite caindo escura,
ressentida em relação
ao dia, ao mundo
e aos porquês da vida
nunca dar em nada
foi naquele bar de sempre
que o momento distraído
fez-se em eterna despedida
(do pouco que sobra
restou o silêncio
e a madrugada)
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