TRÊS POEMAS DE EWALDO SCHLEDER
SOBRE O TECLADO DO NOTEBOOK
Olho para minhas
mãos
sobre a mesa.
Vejo a função dos
dedos.
Procuro o que vai
além do que só
bulir ou bolinar.
Mais do que isso
os dedos cobrem
o teclado do meu
notebook,
in totum.
O indicador
toca as letras
R T
Y E F
o anelar
U J
K L M
o mindinho dá o
enter
e assim por diante.
Ainda porém
sobram dedos
sobram teclas
me resta a mão
esquerda inteira.
Esta toda ela
então faz uma
outra leitura:
agora do braço
do violão esquecido.
E logo fico seguro
que minha mão
direita
toda ela - com seus
dedos -
poderá também
dedilhar
minha balada
preferida.
Minha mão dará
adeus
meus lábios um
beijo.
Ficam os anéis,
vão-se os dedos.
GOTA DO ORVALHO NA RELVA
Quando longe de mim
o ser amado,
a amada – suas
mãos,
cheiro, hálito,
voz, passos.
Longe, a doce
surpresa do seu beijo.
Sinto na pele a
ordem
cósmica entrar em
desordem.
O amor, como um sol
lasso,
cor de ouro velho –
chama de
todo dia - a
iluminar, apagar, aquecer, queimar.
O amor sempre será
sol. E será galáxia.
Fonte da nossa
loucura,
do nosso sistema
nervoso – plexos, amplexos.
Somos planetas e
satélites do amor,
mais do que apenas
asteroides ou meteoritos;
ou estrelas que já
não brilham mais,
ou estrelas que
brilham, mas não mais existem.
O amor libera o
éter.
Gargalhamos e cantamos
por toda a
eternidade. E somos pai do mundo, mãe da natureza.
A semente, o fruto,
a flor: jardim do paraíso
- primavera do
éden.
A folha seca a cair
no chão macio do outono.
Os pingos da chuva
no telhado.
A gota do orvalho
na relva em repouso.
E abraçamos às
largas o vento.
E ainda que este
possa nos
derrubar, rimos de
prazer e gozo.
E ganhamos a
dimensão do próprio planeta.
A lua como
companheira, o amor inseparável.
As luas: o amor e
suas variações.
E como planeta, sem
essa deusa
satélite nada
somos. De onde viemos? Para onde vamos?
Murcharemos depois
de cheios,
cresceremos para
explodir,
o amor a se
esvaziar de todo, antes do fim.
Perdida, a lua, de
vez, no sonho do firmamento,
Adeus harmonia
cósmica. O sistema solar caduca.
Nervos em farrapos.
Não seremos mais terra, nem Lua.
Não sentiremos mais
os brilhos do Sol.
E em meio ao curto
circuito dessa órbita caduca,
oscilaremos entre a
alta tensão do dia
e a exaustão insone
da noite sem fim.
Onde tudo será
silêncio e escuridão.
Então, junto a
Saturno, Urano,
Netuno... E com uma
lua desconhecida. Cujo destino
também terá seu
quarto de lua nova.
Não essa na qual já
pusemos os pés e as mãos.
Mas uma lua sem
quebrantos, lua dos namorados!
NOVE VEZES FORA
Amassar papéis sem
importância
rascunhos de poemas
desprezados
lustrar os anéis de Saturno
contas
eletrocutadas
sem aqueles
resultados
que aprendi na
aritmética
dividir somar
multiplicar
diminuir apagar
nove vezes fora a
glória
nos fundos do meu
quintal,
na sala do meu avô.
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