DOIS POEMAS DE EWALDO SCHLEDER

 

CAI A TARDE CAPRICHOSA,

CAI UMA PONTE DE PEDRA

 

O morro, além das ondas, faz sombra.

O mar inunda o plano do horizonte.

Olho o dia clareando, tímido sol.

Só nuvens de chumbo nas fronteiras sem fim.

Abro as janelas, vejo o céu mais perto

e lembro que diálogos com o sol

são desafios do homem à natureza.

Cai a tarde caprichosa, cai uma ponte de pedra.

Águas do riacho da serra correm mais intensas.

Em casa, vento caprichoso repousa na varanda.

As pedras ressoam o mar.

O espanto desenlaça a noite.

Alucinante lua em fogo - por trás das nuvens -

queima as folhas do outono

 e traz o matiz sépia da vila dos pescadores.

Corre a vida entre a montanha, a praia, a cidade.

 

JARDIM DE ROSAS PÚRPURAS

 

Houve um dia em que compunha poemas espalhafatosos, com versos bizarros, a sugerir interesse pelo abstrato, pelo nada – sem voz lírica ou coisa que o valha.

Que iria o poeta querer mais do que se acomodar no sofá e ouvir a leitura do seu poema? Quem sabe um súbito entendimento alheio, renovado, divertido, fosse oportuno. Mas quem cuidaria da fortuna e gloria? Ou era mentira?

Essas buscas de inspiração, de matéria-prima, não são indenizadas. Ninguém faz justiça aos versos. Depois do recital solene, nenhuma beca julgará poeta – culpado ou não.

Um mutirão de pedestres, entre vizinhos e andarilhos, levantará o pavilhão com as cores da liberdade; uma bandeira do arco-íris, para todas as tendências; a colorir o rebanho; contrária ao protocolo.

Quando a natureza sufoca florestas e jorra sua força – água ou vento ou fogo – pelas canaletas das ruas e esquinas do mundo sujo, entulhado; essa notícia é toda sua. Você, que sensatamente prefere os fatos, em vez das performances da mídia bovina, nunca terá o que sonha; o que é vantajoso, porque sonhar custa caro e agora não há palco.

Aridez de sexo no plano da realidade traz uma expectativa pobre de sentidos e humanidade. Segue o enredo utilitário, decididamente subterrâneo, muito mais pronto para coisa alguma do que para o supremo gozo; uma alegre folia; um êxtase no jardim de rosas púrpuras.

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