DOIS POEMAS DE LUCIANA BARRETO

 









NÁUFRAGOS

 

Tudo o que ao mar lançamos

impiedosamente nos é devolvido:

seja aquele pedido débil

– e insistentemente renovado –

em rito flores espumas

seja o clamor mais secreto

a ecoar antigo em garrafas trôpegas

a vedar silente o grito grave

a ave presa, o brado náufrago

 

Tudo o que às águas fundas confiamos

– atestado de nossas misérias tantas –

a nós brutalmente volta

em sua fatura de sal:

o canto (impossível) das sereias de Ulisses

as pegadas dos banhistas

a areia varrida pelo vento do norte

 

Mas no farol azulado de Creta

sempre acesa aquela ternura vaga

a saudade rubra das mães febris

e o suspiro sem porto

de mais – e mais – amantes.

 

 

REGRESSO

 

Daquele corpo não conhecera pouso

Daquelas mãos não colhera acenos

Daquele leito não divisara aurora

Mas é desse céu envidraçado

(estrelas recolhidas dentro)

que me sei vento solto

cordilheira úmida

regresso infindo

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

POESIA

OITO POEMAS DE SIDNEI OLÍVIO

A POESIA CHINESA REIMAGINADA POR CAMILO PESSANHA