DOIS POEMAS DE SIDNEI OLÍVIO
INSTÂNCIAS MEMORÁVEIS DE UM JARDIM
1.
o caminho que nos
iguala
e separa
na intenção de cada
gesto
aqui se abre e
sucede.
jardim onde pastam
ideias
e formigas.
em cada mão
uma flor é
empunhada.
em cada verso
vestígio de
espinho.
2.
apenas lembranças.
silêncio repartido
pelos quatro cantos
da casa.
em ecos e
epifanias.
lá fora o jardim
ressequido
não comemora a
chuva.
esvanece em cores.
em harmonia lúgubre
ao azul que restou
das janelas
fechadas
feito os olhos
da minha vó.
lembranças apenas.
rudimentos de um
cenário
erigido pelo avesso
das palavras.
IMPRECISO GESTO DE FABRICAR PÉROLAS
o mundo acabando lá
fora e eu cá dentro da concha. fugindo do vento. fingindo razão em dizer, quase
poeticamente, que essa rua é sem saída. que a vida é essa rua. e juntos
seguiremos para o mesmo fim. o estado permanente das coisas que aceitamos sem
entender ou resistir.
ela desabando com o
mundo e eu no ostráceo aconchego, envolto no vício de esconjurar viagens e
recear tardes de tempestade (gesto impossível de ser explicado, como o insípido
gosto das manhãs.)
esperava perolar
tais receios numa coragem única. atravessar a noite em saltos. exceder todo
sentido do mundo. mas ela nunca aprovou meu disfarce. sustentava os pés
voltados na direção dos olhos. ainda que o corpo cambaleasse dúvidas.
agora nada resta,
senão manter a clausura. e contar o martírio às paredes que me vestem feito um
colar.
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