TRÊS POEMAS DE JORGE AMÂNCIO
MULHER DO SENHOR DO MUNDO
carrega um talismã e uma espada
agarra os chifres de um búfalo
desfaz montículo nocivo da terra
ao entardecer volta para casa
oiá cuida das crianças
oiá rejuvenesce os velhos
guerra paixão sexo elegância
floresta escuridão tenebrosa
morre com o seu marido vermelho.
MONÓLITO
I
olhos estrelares
fixos num girassol
giram num céu de vidro
o corpo sólido
rodopia
fogos de artifício
surdos pela noite
esculpem feras
efêmeras tatuagens
radiantes de alegria
rosadas de furor
cambaleiam errantes
entre a criação e o caos
o corpo preto
rodopia
II
hominídeos deserto africano
homens-macacos leopardos
pousa o monólito preto
fome morte futuro
osso arma nave
valsa no silencio
danúbio azul
inteligência artificial existência
a quatro milhões de anos
o monólito preto
ultrassom
III
com traje espacial
envelhece
num quarto luís xv
envelhece
vestido a rigor
envelhece
deitado na cama
envelhece
multicolorido
o feto humano
flutua
ao lado da terra
CHAMA
DE CINTILAÇÕES DESCONHECIDAS
da profundeza da terra
vales
vulcões
trovões
uma teia em anarquia
água
montanhas
mata
e ruína
artífice do barro
o sopro
cólera existencial
a crise
um fio em assimetria
plenitude
morte
e idolatria
à profundeza da terra
Comentários
Postar um comentário