UM POEMA DE EDIR PINA DE BARROS

 












RECICLAGEM

 

Pois tu não vês, amor? A chuva cai serena,

escorre sobre a terra, a renovar a vida

a recompor o solo – e quem com ele lida –

assim sempre a cair a tudo reordena.

 

Pois tu não vês, amor? A vida está tão plena!

Renasce aqui e ali – com nada se intimida –

enflora em mangueirais, ressurge da ferida

que o estio produziu e em tudo nos acena.

 

Não poderias ver... Sentir tantas mudanças,

tu vives no passado e disso não te cansas,

sem esgarçar os nós que amarram velha trama.

 

Não percebeste, não? Eu renasci do estio

me recompus também – da dor até me rio –

e a vida viça em mim, dentro de mim se enrama.

 

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