DOIS POEMAS DE EWALDO SCHLEDER

 









PAU-BRASIL

 

Há 500 anos

o Brasil pega fogo.

Não um fogo puro

como a água jorra

da terra um dia,

mas faísca do atrito

das mãos do homem

com o vil metal. 

Sangue derramado

de três raças,

o fogo

nos braços da ganância –

 madeira, garimpo,

soja, pasto.

Um brasil em brasas, 

 com tantas cinzas já

para a posteridade,

sem mais a cor

do pau-brasil.

A madeira

enrubescida

 ressoa a queimar,

mas calha a língua

a lamber a cria

migratória

mundo afora:

o português,

esse idioma

que ecoa à sombra

dos coqueiros coloniais,

pelos quatro ventos,

a transformar

os fados do saber.

Onde haja gente viva,

depois da queimada,

da seca, da devastação:

o crime,

o ser humano violento,

a vida débil.

 

 

SONATA COLORIDA

 

O sonho rompe inibições

e traz imagens surreais

a uma cabeça cansada.

Sonhar é um pensar dormindo.

Corpo relaxa.

Dorme profundo.

Às vezes cabeceia,

estremece, chuta.

Repousa em posição fetal.

 

Um Sonho é cenário

e receptáculo

de memória, movimento,

medo, frio, calor.

Como na vida.

Com notícias boas e ruins.

Sonhos são operações

clandestinas da consciência.

 

 

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