DOIS POEMAS DE SANDRO SILVA

 












O ÚLTIMO OLHAR DE CHE

 

inabalável em seus propósitos

para além do corpo caído inerte

aquele olhar se eleva pujante

 

alcança as mais vívidas estrelas

como nova e eterna morada

da coragem sempre vibrante

 

busca paisagens de outras eras

e retorna convicto da inspiração

com o brilho certo e incessante

 

desanuviando os temores daqueles

que têm a humanidade como pátria

para seguirem sempre adiante.

 

 MOINHO

 

Sento-me sobre o antigo sofá de canto

vejo as peças de madeira do tabuleiro

aberto sobre a mesa ao centro:

parecem se mover por própria vontade.

Eu observo absorto em um misto

de concentração e aborrecimento

a cada novo lance imaginário.

Sinto o futuro cruzar o corredor

disfarçando-se de invisível presente

onde convalescem insondáveis mistérios .

Qual o motivo para temer?

 

Levanto-me e sinto meus movimentos

São guiados pela brisa quente e seca

Que entra pela janela entreaberta

Lá fora o moinho segue seu curso

Esmagando sonhos vacilantes

Assim como ele, sinto-me girar

Ao puro sabor do vento

Sob o mesmo eixo indecifrável

De uma moral padronizada e invasiva.

Quem se vale de toda essa energia?

 

Viro-me e sigo em direção à porta

Ao transpô-la, o vento se torna mais forte

A quebrar-se sobre meu peito esquálido

Contemplativo e perplexo, logo percebo

Que as nuvens encobrem mistérios

Talvez guardados no fundo do infinito

Então decido investigar

Com a petulância dos desavisados

Ou a ignorância dos destemidos

Raios e granizos estarão à minha espera?

 

Apresso-me sobre as pedrinhas do quintal

Vejo sombras difusas no horizonte

Sinto passos ecoando sob os vales

Em silencioso suspense posso perceber

Que outros caminham na mesma direção

Para onde convergirão nossos passos?

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