TRÊS POEMAS DE EWALDO SCHLEDER
RELÓGIO DO MAR
as ondas as horas
as ondas vêm
e voltam ao oceano
as horas passam
e não voltam
apenas o relógio
continua o mesmo
ando na areia úmida
entre a maré
vazante
e a areia seca
ouço e vejo as
ondas
deito-me na rede
esqueço as horas
INVENTÁRIO
Deixo vazios
um álbum
e um caderno.
Mas também deixo
uma sacola de
palavras,
para o álbum e o
caderno.
E números, para
datas
e cálculos de
tempo.
Deixo ainda um
cachimbo
de estimação,
importado.
Minha coleção de
óculos,
também fica
O que mais?
Ah! meus títulos
olímpicos
de vencedor e
perdedor;
meus troféus ficam.
Dívidas não deixo
nenhuma.
Meus livros ficam
todos eles,
de Marx e Nietzsche
a Leminski e
Trevisan.
No mais,
todos os meu textos
ficam no
computador:
poemas, rascunhos,
ensaios,
pedaços de
romances,
crônicas, roteiros.
Deixarei diversos
mapas,
menos um:
o mapa do céu,
este eu levo comigo
para poder entrar
naquele azul
de luz e eternidade.
Acho que é isto.
Eis o meu
inventário.
Agora só preciso
abraçar
Morfeu – para
sempre.
DALILA
Ao calor do sol
pássaro se
transforma
em cavalo-marinho:
colhereiro
cor de salmão
singra os mares
além das águas
que cobrem de azul
o planeta.
Como se o
cavalgasse
em terra firme,
lá vai Dalila.
Postura de amazona,
iluminada por
estrelas,
ela cintila
sua pele de bronze
e desliza pelos
oceanos.
Seu corpo formoso
aguça
olhares e desejos
de homens e
mulheres.
De repente,
Dalila se revela
toda para mim.
Ela surge de pé,
nua, no meio da
sala.
Ofegante, desperto
e me deparo
com a brandura da noite.
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