TRÊS POEMAS DE PAOLA SCHROEDER
VENTO FECUNDO
A vergonha
apodera-se
das palavras
obscenas.
O que se pensa e lê
escapa como silvo
do vento.
Fechada em mundo,
desnuda, toda pele.
Tangencia, corta e
toca.
Me embaraço entre
as letras
que agora são
minhas também.
E como todo campo fértil,
um dia será
fecundado.
TALVEZ BRILHE EM SIGILO
Aquilo que absorve,
não amanhece o mar.
Olho em preto e
branco
se esconde na
pupila.
Tanta fome fugaz
subnutrindo a
palavra.
Anda rouca
desmembrando o sentido.
Torna o terno em
mentira.
Fere a vista.
PANTA REI
Folhas secas no
chão
esfareladas pela
pressa.
Nunca se vê quando
o verão as abandonou.
Respeito a nudez
dos galhos que
sobrevivem.
Não vejo do outro
senão o inverno
que de longe
congela meus olhos.
Sua língua morta
ninguém escuta.
Manhã rasga com sua
faca o verso.
Tua dor não me
permite a poesia.
Meu silêncio não
repousa.
Abdico da sua
presença,
pois é na ausência
que minha verve vive.
Você diz sempre: tudo
se transforma.
Temo o movimento,
porque me transmuto
constantemente em
adeus.
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