TRÊS POEMAS DE SIDNEI OLÍVIO

 











PROJEÇÕES INCONTIDAS

(cosmografia de uma estrela)

 

desejo é medida de tempo

futuro insistente que se busca

sem definir intervalos

 

raros como o azul grisáceo

tela do mundo

que expande o imprevisto

 

cenografia escassa

das palavras de ontem

roteiro que torna obsoleto

           

o plano difuso em sua vida

gestual do cigarro aceso

entre os dedos

 

brasa ardendo em contraste

com a brancura dos seios

(corte seco da existência)

 

legítima impressão do trecho

close a quem normalmente

necessita de holofote

 

e das harmonias cruzadas

entre a natureza

e cálculos de simetria

 

pontas de estrela

pétalas de flor

helicoidal invólucro

 

áureo número

que se transforma

em fragmentos de sonho

 

O PÉGASO DE PICASSO

 

1.

A morte,

armada em voo

com asas metálicas

e cauda de víbora,

cruzava campos em fuga:

vagava os sentidos horários

de uma cruz obscena.

 

a vida era carne crua

no bico dos corvos

cálice de lágrimas

diante do vesgo

que entrevi em seus olhos

 

(quando na ruína das horas

você prometeu o empíreo)

vai-se fazendo esquecido

depois que a sombra se deita

e cobre de luto o futuro

 

2.

entre gritos de horror

e atmosfera cubista

subo no dorso do cavalo

que fugiu da guernica

a pastar com língua de lança

o purgatório do mundo

 

a vida

grito selvagem

que se tornou visceral

ainda me acorda de manhã

 

ÍRISES DISSIMULADAS

 

Que importa a paisagem,

a glória, a baía, a linha

do horizonte?

- O que vejo é o beco

 

Manuel Bandeira

 

 

1.

finquei minha bandeira

no beco de Bandeira

 

planície longeva

onde sobeja o meu horizonte

 

onde a paisagem começa

e finda

 

estanque

entre tantos rasos tanques

 

e ainda que paisagem

poesia tardia de Portinari

 

roupas e lençóis 

tremulando nos varais

 

2.

o horizonte distante

um lugar escondido

 

norte traído

casual desencontro

 

o horizonte esquecido

atrás da janela

 

mundo fechado

por uma tramela

 

3.

se a vida ainda fosse

uma onda outra redondilha

 

o inverso do ocaso

diferente partilha

 

um caso ocluso

num mero acaso

 

mas a vida é dura

dura e escura

 

a vida é de pedra

e circula o espinho

 

que enfim acusa

o fim do caminho

 

4.

(e agora Drummond de Andrade

onde pouso a pena

 

que plagia e encena

a tal realidade?)

 

 

 

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