UM SONETO DE VIRIATO GASPAR
AS
PARCAS
Talvez falte calor. E sobre a sede.
Pequenos rituais. Soturnos gestos.
Vagos vultos nos nichos das paredes.
A memória dos dias indigestos.
As horas vão-se assim. Como as certezas.
A inútil procissão das velhas rotas.
Os mortos jantam sós na imensa mesa.
A glória acaba assim. Lembranças mortas.
Ora, direis: dirás grandes besteiras.
O cheiro de bolor nas passadeiras,
o mundo que cansou dos teus sapatos.
Lá fora a chuva explica o vento às telhas.
Os olhos rangem. Dizem sobrancelhas.
Silêncio. Pó. Torpor. Goteiras. Ratos.
20/06/2021
(Do livro inédito Lapidação da noite)
Comentários
Postar um comentário