DOIS POEMAS DE SANDRO SILVA

 







NOSSAS NOITES

 

A chuva murmurosa

que cai esta noite

desliza pelos telhados

lisos da memória

 

Em meus devaneios

conhecidos contornos

de teus encarnados

lúdicos lábios

 

Sempre molhados

das tantas outras

de nossas noites

chuvosas a dois.


ALÉM DOS VIDROS

 

A chuva caía ao seu ritmo

mansa e cálida sobre o telhado

como um breve deslizar dos dedos

sobre a face marcada pelos dias

em tons sucessivos de murmúrio

de uma tarde que clamava

por permanecer clara e desperta

para além dos vidros da janela.

 

Folhas e grãos de areia arrastados

o cheiro da terra molhada cercando a casa

como uma grande ciranda de infância

estranhamentos emaranhados ao meu lado

pesando sobre a imóvel poltrona

restos dos dias que se evaporam

a romper em saltos na memória

a barreira sinuosa do tempo.

 

Não sei mais o que é lembrança

ou mera miragem desprendida

sensações sorrateiras que se aproximam

no imponente horizonte do porvir

mas sei que a chuva segue seu fluxo

mansa e cálida sobre o telhado

e ainda alcanço a luz espalhada

para além dos vidros da janela.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

POESIA

TRÊS POEMAS DE JORGE AMÂNCIO

NOVE POEMAS DE JORGE AMÂNCIO