DOIS POEMAS DE ANDREA MORAES
GESTOS
Conservar quadro, portão e vento,
planta, vidro, madeira opaca
e a quente, rubra solidez do pó
no mundo do poema sujo e sem rigor.
atiçar decadência, morte e ruína,
sonho falso, sem aparição nem surpresa;
esconder num mundo escuro
o gesto límpido da mão sobre a mesa.
BLASFÊMIA
Descansei, com resignação e exuberância
Na fecunda doçura das relações.
Os prazeres, soltei-os das minhas mãos
Como alguém que desembrulha a velhice.
Apaguei luzes, encolhi espaços,
As bocas sem maldade ou pecado;
Ativei perdões, alegrias e sucessos
E desfiz, a ninguém, todo bem que pude
Que a realidade erga blasfêmias em sussurros
E limpidez de presença e proximidade
No meu corpo, que sempre foi feliz,
Exibindo-me as explícitas erupções
De bens que distribuí, com consciência
Pelos ricos males que nunca fiz
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