DOIS POEMAS DE JORGE AMÂNCIO

 


A CHUVA BATE NO ESPÍRITO MUITO MOLHADO

 

coisa vazia

a cabeça

pode soar

 

de pé na estrada

na dobradiça da porta

abre o bico

como ave de rapina

 

sobe no forro

derrama

sal no molho

 

na floresta

assenta uma pedra

(e essa pedra)

sangra

 

a chuva que bate

no espírito

não passa pelo fogo

 

na plantação

acima das plantas

(graças a seu tamanho)

vê-se seu crânio

 

amarra uma pedra

na carga de alguém

que tem um fardo leve

 

se o cacto amadurecer

come seus frutos

 se não amadurecer

espera

 

(que os filhos

não sejam raros

na minha casa)

 

laroiê exú. exú é mojubá!

 

 

VERSO E REVERSO DO UNIVERSO   

 

I

enviado por quem não é visto

vem ao mundo sem esquecer

comprido cajado de chumbo

o grande comedor de caracóis

 

dono da coisa sagrada

do corcunda e do albino

o rei do pano branco

faz as coisas serem brandas

 

16 pedaços de marfim

búzios pulseiras de estanho

caracóis nozes de cola

ratos peixes limo da costa

 

giz branco enfeita o corpo

a barba embeleza a boca

marido da mãe dos peixes

Oxalufã é o maior de todos

 

 

II

 

rei cujos dias são dias de festas

dono da lei assume o comando

julga com tranquilidade

apoia quem diz a verdade

 

inutiliza completamente

 o olho do malfeitor

esfrega um saco de estopa

como a bunda do malfeitor

 

tira de quem não tem

dá a quem tem

com suas mãos compridas

retira o filho da armadilha

 

ouve de todos os lados

paciente não se encoleriza

se tem o que comer

nos dá de comer

 

III

 

dono de um pano todo branco

de olhar alegre embriagado

permanece no pátio do céu

como um enxame de abelhas

 

sentado na sua cadeira

camelo corpulento camaleão

bebe vinho de palmeira

dança ao som do tambor

 

olha com o rabo de olho

planta brota protege colhe

desata seu alvo véu

dá de presente à criança

 

justiceiro do pano branco

auxilia os homens na terra

oxalá poderoso orixá protetor

impede que o mal aconteça

 

Epa Bàbá!!!

 

 

 

 

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