DOIS POEMAS DE SIDNEI OLÍVIO

 









PEQUENO ENSAIO SOBRE A METRÓPOLE


O dia termina repleto, indeciso. 

Há um recomeço em cada lugar – espaços sem latitude e destinatários.

Cruzo o asfalto apressado da marginal.

Singular grafia estampada na mureta é filtrada pelo vidro do automóvel. 

Algo como a percepção do óbvio, oculto no cotidiano silencioso das horas,

a cismar o espetáculo do tempo.

Perto da noite um cenário de sangue esparrama-se no mais fundo poente.

(O silêncio se alastra sombrio nas emoções recolhidas de perfilados ritos.)

Fecho meus olhos aos crimes da tarde.



TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO


I.


Dias trasladam assim

secos e escurecidos.


Vento entrando de viés

pelas frestas da casa

envolve cada espaço

abraça os móveis 

com seu frio.


Espanto de tempo 

que me veste

em direção 

ao fim da noite.


II.


A luz da manhã vem aos poucos

enquanto a sombra 

do planeta

tropeça 

sobre o avesso.


Lume a mesa alva

onde o papel espera o mundo

que se abre desde o início 

das palavras escondidas.


(O sol suavemente

requenta as mãos 

ainda mudas

atentas ao poema 

que atravessará o dia.)


III.


Um ruído quase imperceptível

desliza pelo telhado.


Evoca um nome

como alguém a me chamar.


Qual a chance 

quando nos deparamos

com a própria ausência?

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