DOIS POEMAS DE SIDNEI OLÍVIO

 









CASULO

 

O espaço urbano converteu-se em terra inóspita.

A vida encurtou seus movimentos.

Circulado por objetos íntimos, espera cair o fim do dia

sobre a cidade ruidosa.

A noite arrasta o mistério.

Da janela ecoam sons enigmáticos: palavras deslocadas da boca

num sopro interminável.

Em câmera lenta, sua imagem transforma-se em verbo futuro

como se do escuro da garganta raiasse uma luz sem cortes.                

Holofotes da vida solitária: filamento de narrativas

aprisionadas num bulbo.

Precipita a fuga e desaparece na sombra crescente da lua

e da falta dos sentidos que ainda lhe pertence.

 

 

DESEJO ESCONDIDO NO ESCURO

 

A mala sem espaço para etiquetas

e nenhum rosto conhecido.

 

Nenhuma palavra perdida

torna-se eco no vácuo das intenções

 

enquanto o vento perturba o voo

ao encontro da espera.

 

Lembro-me da sua voz inspirar

as mais ingênuas abstrações.

 

O reflexo da nossa imagem no espelho

repartindo o tempo dos prazeres.

 

Meu nome feito um gemido

ao vestir o instante do dia.

 

Cai a noite envolta em brumas

(sóbria como um relógio.)

 

A luz acesa da pista seduz

a sombra que agora nos define.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

POESIA

TRÊS POEMAS DE JORGE AMÂNCIO

NOVE POEMAS DE JORGE AMÂNCIO