QUATRO POEMAS DE JORGE AMÂNCIO

  












VERSO E REVERSO DO UNIVERSO    


1

enviado por quem não é visto

vem ao mundo sem esquecer 

comprido cajado de chumbo

o grande comedor de caracóis


dono da coisa sagrada

do corcunda e do albino

o rei do pano branco

faz as coisas serem brandas


16 pedaços de marfim 

búzios pulseiras de estanho

caracóis nozes de cola 

ratos peixes limo da costa


giz branco enfeita o corpo

a barba embeleza a boca

marido da mãe dos peixes

Oxalufã é o maior de todos


2

rei cujos dias são dias de festas

dono da lei assume o comando

julga com tranquilidade

apoia quem diz a verdade


inutiliza completamente

 o olho do malfeitor

esfrega um saco de estopa

como a bunda do malfeitor


tira de quem não tem 

dá a quem tem 

com suas mãos compridas 

retira o filho da armadilha 


ouve de todos os lados

paciente não se encoleriza 

se tem o que comer

nos dá de comer



3

dono de um pano todo branco

de olhar alegre embriagado

permanece no pátio do céu 

como um enxame de abelhas


sentado na sua cadeira

camelo corpulento camaleão

bebe vinho de palmeira

dança ao som do tambor


olha com o rabo de olho

planta brota protege colhe

desata seu alvo véu

dá de presente à criança


justiceiro do pano branco

auxilia os homens na terra

oxalá poderoso orixá protetor

impede que o mal aconteça


Epa Bàbá!!!


O REI DO PANO BRANCO


o galo de obatalá não tem galinheiro


sobe na árvore 

ali se agacha e agarra


cobre crânios com azeite 

pega a árvore e a engole

vende trajes de contas segi


***


homem delgado sem cicatrizes


obatalá arco-íris da estrada 

recebe suas armas do céu


cabeça coroada contas segi

filhos do segredo e oferendas

a criança como garantia


***


redondo como o terreno do mercado


mostra a morte ao mundo

mata o egun e o come

 

pai de xangô e orunmilá

a conta de segi 

não é feita por qualquer um 



O GRANDE COMEDOR DE INHAME PILADO   


rasga a massa de inhame 

usa-a como roupa


silenciosamente

pila o inhame seco 


200 punhados de massa

satisfazem a criança


100 punhados de massa 

deixam-no plácido 


sucessivamente

engole os inhames


guerreia com o pilão

bebe a massa de inhame


repete e fala demais 

como um tagarelo


dorme no travesseiro

de massa de inhame 


pai do segredo 

da massa do inhame 



SOMENTE ELE SE LAVA COM A ÁGUA DA CABAÇA


como um gato

vai para casa 

e sobe no telhado 


tira as penas

vermelhas do papagaio 

e adorna a cabeça 


 inventa o pilão

 para se fartar 

e para guerrear 


usa calça 

e briga 

com o vendedor de álcool 


devolve o sexo

ao homem 

e à mulher, 


faz um chuço

fura a espinha

dá riquezas e filhos


se precipita

pega para beber

o que está no fogo. 


num lugar perigoso 

põe o pé do ferido 

no meio do formigueiro


a morte

expulsa a guerra

sem fugir

 

com a espada  

afugenta a morte 

e as suas sombras.


o que o orixá

pega da terra 

não basta


Êpa Babá! Xêuê Babá!



contas segi - contas cilíndrica independente do material ou cor na qual foram confeccionadas. Entretanto dentro da cultura Iorubá somente as consideram como legitimas as de coloração azul com suas variações de tonalidades e suas formas cilíndricas e irregulares.


Egum (do ioruba egun) é um termo das religiões de matriz africana que designa a alma ou espírito de qualquer pessoa falecida, iniciada ou não


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

POESIA

OITO POEMAS DE SIDNEI OLÍVIO

NOVE POEMAS DE JORGE AMÂNCIO