TRÊS POEMAS DE MARLI FRÓES
PEDRA FILOSOFAL
I
Desvio
Tinha no meio da pedra
larva-poesia;
não era obstrução:
era um desvio
para outros caminhos...
II
Homem- multidão
No meio do caminho
tinha o homem-povo:
calhau nas mulheres !
lei do cão
povo unido
raiz do perigo
III
Pedra do Sono
No meio do caminho...
palavreando,
eis a “pedra do sono”...
A educação pela Pedra!
Galos tecendo manhãs...
aprendizagem cabralina
IV
Homem- pedra
“Se essa rua, se essa rua
fosse minha (...)
eu mandava
extirpar
os vários homens
que perseguem
mulheres
e seus livros
V
rocha-mãe
pedras parideiras
fertilidade,
tradição ancestral
geologia maternal
pedra vulcânica
já foi o fogo
que se encontrou
com a água,
quatro elementos
encenam
sob a regência de Vulcano...
respiro
fertilização
VI
Pedra do túmulo
sempre teve homens
a enterrar pretos
nas páginas policiais!
Pedra lançada:
pedra de afiar foice, facão
capoeira, molejo e esquiva!
Se descer o morro...
“No fundo do mar tem pedra
Debaixo da pedra tem areia”
VII
Pedras da infância
jogo das pedrinhas,
na estrada rural;
fractais
ao beijar a lua.
A menina colhia pedras;
aprendeu, com o pai,
a bater umas contra as outras
e fazer mágica luz faiscante
irrompendo escuridões;
um caso natural de poesia...
VIII
Pedra da Geni:
tinha uma multidão
atravancando o caminho
da Geni
“Joga pedra na Geni! (...)
Ela é feita pra apanhar...”
Quem de vos (nunca) pecou
atire
a primeira
poesia.
IX
Pedra “Igreja”
O homem cata pedras
constrói templos
mata pessoas
inclusive em nome de Deus...
X
Pedras celestes
estrelas cadentes
escrita
do firmamento,
o olhar dos deuses
para a terra
XI
Pedra filosofal
Século XIV:
Flamel... alquimia
longa vida...
Século XXI:
Pedra nos rins:
líder político,
abrevia vidas...
o castigo de Sísifo
é nosso !
Pedra-da-paciência
e amuleto de lápis lazúli
para atravessar
as paredes
de pedra
XII
Sobre a porosidade
da pedra litográfica
uma mulher escriba
a espera
da tinta:
múltiplas cópias
de corpos
grafados
para outra vida.
CASA
DOS VENTOS
Nos veios da serra
as águas
espalham;
plangidos da alma
da terra
caminhos silvestres
silvos de pássaros
cortejam a primavera
1486 m de altitude
a vida continua
os seres nus
em seus pelos e pelagens
acasalam
Das alturas
beiro o sol,
arrebol
doura os corpos
filtro de raios vazam
pelos cabelos
levados ao vento
linha tênue
- no horizonte -
não separa céu
nem chão.
Plenitude
de gozo
que se espraia
(DES)CONS(C)ERTO DO MUNDO
Olhos em colisão com o
vento,
uivos de cio desesperado.
A Europa sangrou a África e
a América,
a América Latina ainda
expulsa a metrópole.
Bocas pretas cantam,
atravessando o fio do tempo
filhos seguros às saias das
mães
se protegem do passado e do presente
Na África contam-se
histórias;
Baobás moradas-templos
da ancestralidade
Mulheres e sementes arvoram
uma muralha verde
contra o avanço do Saara,
o deserto que faz chover no Brasil.
Do ponto everest não se viu
o mundo;
no Himalaia ou no Tibete
alguém alcança a paz
em um movimento solitário,
egoísta.
A Antártida guarda segredos;
mulher ambicionada, quase
inacessível ;
Oceania, tinta de sangue,
koru, maori –tiki, Manaia,
arraia, hei tiki –
tatuagens maori no planeta,
escrita de pele, reescrita
de uma nova Humanidade
Poemas maravilhosos! ❤️
ResponderExcluirMarli, a menina poeta continua semeando pedras-palavras preciosas , desafiando a paz dos himalaias nos altiplanos diamantinos. Voz poderosa, de quem ama e sabe amada. ❤
ResponderExcluirCarlos, querido, obrigada por sua leitura e acolhida!
ExcluirMarli minha querida e maravilhosa guerreira, te acompanho no Face com orgulho .
ResponderExcluirObrigada querida Mirian Volpi.!
ExcluirMarli, minha querida maravilhosa poeta guerreira, acompanho vc. no Face,com orgulho
ResponderExcluirMuito lindos, Marli
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