UM SONETO DE EDIR PINA DE BARROS

 

CONFISSÕES

 

Aflição de ser eu e não ser outra.

Aflição de não ser, amor, aquela

Que muitas filhas te deu, casou donzela

E à noite se prepara e se adivinha

Objeto de amor, atenta e bela.

(Aquela, Hilda Hilst)

 

Quisera ser aquela – a que, na vida, esperas –

mas sou igual a flor que é própria do cerrado,

que nasce sobre o pó do fogo já passado,

temente de paixões, de sonhos e quimeras.

 

Quisera ser submissa e ser, também, deveras,

aquela que te espera e sonha ter-te ao lado

eternamente amor, o corpo abandonado,

cravado em tua tez, como no muro as heras.

 

Seria muito bom querer-te desse jeito,

sempre a esperar por ti nas sedas de teu leito,

com lingerie azul, bordados sobre rendas.

 

Que pena eu ser assim! Também não ser aquela

que vive ao lado teu, feliz, atenta e bela

sempre a esperar por ti, nos seios, lábios, fendas...

 

Tela: V. Romero Redondo

 

Comentários

  1. GRANDE SONETISTA EDIR. Nas CONFISSÕES, excelentes entrelinhas para desejos de tantas mulheres. Parabéns pela composição e apresentação artistica. (Sílvia Araújo Motta. Recanto das Letras, ABRASSO e da CAPPAZ,)

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