QUATRO POEMAS DE CELSO VEGRO

 













ANDARILHO

 

Um silêncio

devorado

sentenciou:

não há serpentes.

 

Foi só um jogo

que governava

as astúcias da vida

e tremores do corpo.

 

Imperdoáveis

cactos vermelhos,

de alma arejada,

fruem décadas

sem alarde.

 

Ainda que o declínio

seja perene,

a terra permanece

incógnita.

 

Cada novo dia,

entrecortado,

traz seu entusiasmo

em contramão

ao começo do fim.

 

 

IRIDESCÊNCIA

 

Sujeitos petrificados

por palavras inesperadas

aturdem paredes.

 

Línguas estranhas

largas e estiradas

produzem vertigem.

 

Estátuas de cera

da habitação vacilante

vestem escamas.

 

Cabeças de víbora

na palma da mão

abatem sílabas.

 

 

MILAGRE ALGUM

 

Flores mastigam asfalto

cospem pegadas sujas

entrecortadas

pela borda do lago estagnado

morada do buraco polvo.

 

Poeira sepulta bananeira

estéril

encetada em leito seco

aplanado

próximo ao vale

originário de outro ser.

 

 

LATIDOS

 

Olhos em quadrante

do animal selvagem

e andar equivocado

inclina-se sobre a cavidade,

tropeçando em sua culpa.

 

Ao monastério

não se deve ir

quando gritos ofuscados,

vindos da obscuridade,

contém o sopro.

 

Um latido do coração

fez insuportável

o olhar imóvel da esfinge,

do bosque adormecido.

 

Espíritos ainda flutuam

feito coisa pesada,

numa esperança

sua maior tortura.

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