TRÊS POEMAS DE SANDRO SILVA

 













NAUFRÁGIO

 

Sua fúria tragou-me

pelos dedos irresolutos

força inapelável do acaso.

 

Bandeira rara hasteada

anunciando a chegada

de uma nau sem rumo.

 

Acusei logo o golpe

onda densa que se quebra

em costas desatentas.

 

Sacudiu o desassossego

para imergir-me de volta

por súbitas surpresas.

 

Magnetismo em movimento

água indócil e indivisível

sem vertigem a se apegar.

 

TENDÊNCIA

 

Agulhas na pele

corpos costurados

ponto por ponto.

 

Traços sem molde

cores desbotadas

arremate preciso.

 

Novelos de carícias

retalhos de suor

soluços embrulhados.

 

Sorriso promocional

transe alinhavado

tendência da estação.

 

MOVIMENTO

 

O tempo flui.

Retilíneo,

como lesma deslizante.

Constante.

como orvalho gotejante

Vibrante,

como sangue pulsante.

 

Imprescindível

Inabalável

Irreprimível

 

O tempo flui.

Como se disso dependesse

sua própria razão de ser

composição de tudo.

 

Destemido

Desprezível

Desalmado

 

O tempo flui.

Sem controle remoto

ou pedido de voto.

Sem prece de devoto

ou pausa para foto.

 

Expressivo

Apressado

Opressivo

 

O tempo segue

seu eterno fluxo

sem a nada sucumbir

até que se chegue

ao ponto final

do poema.

 

 

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