TRÊS POEMAS DE SANDRO SILVA

 








BROA

 

Um poema

breves anotações

 

que dilaceram

cercas espinhosas

do espírito.

 

Suavizam as dores

da existência

 

tal como uma xícara

de café quente

com broa de milho.

 

SUPREMO ESFORÇO

 

Nos teus olhos eu vi o mar

porta de saída da solidão

enlace de brisa que afoga a culpa

 

gotas que me enxáguam

pés descalços em árido chão

reflexo de bravias profundezas

 

mergulho então sem espera

com medo que tudo se feche

e se esvaia de mim todo esse azul

 

braçadas em busca de direção

num supremo esforço de fuga

denso mistério pulsando em bolhas

 

atmosfera ondulante e solene

repentino abandono desse vazio

que ronda minha respiração incerta.

 

O QUE MAIS QUER DE MIM?

 

A solidão sempre quer mais de mim

como se eu fosse seu súdito prodígio

enquanto baila sua valsa ensimesmada.

 

Insiste em ter meu corpo para si

quer me colonizar sob seu controle

implora a melhor parte de meu olhar

 

Cerca minhas passagens pela casa

salta em rodopios para me impressionar

cai enfurecida ante cada menosprezo.

 

Transita sem pressa entre meus lábios

adora acusar-me de lhe ser hostil

como se eu a desconhecesse.

 

Logo ela,

que vai e volta quando bem entende

ironiza divertidamente todos os medos

e cativa com afinco meu mau humor.

 

Logo eu,

que acolho com remorso suas vaidades

contemporizo suas severas contravenções

e compreendo cada entonação desaforada.

 

A solidão sempre espera muito

tudo que pode e mais um pouco

daquilo que eu sempre fui

 

 

 

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