QUATRO POEMAS DE EWALDO SCHLEDER
NUBLADO
Branco sobre branco
figuras no céu
fugidas da imaginação
entregues ao tempo,
x
À prova da lei: todos os nós
perpassam carnes e ossos
e amparam a imponderável
realidade com imagens retocadas.
x
Brotar de súbito um passado
agora – denso e palpável
um programa de computador
um olhar contemplativo.
x
Fibras de nossos nervos
vibram quando nos abraçamos
são ondas que se elevam
e gozam, gozam nas espumas.
BOCA FECHADA
Boca fechada
posta ao sol
vive sufocada
mas vai em frente
Boca fechada
ganhar um beijo
aleluia!
quero mais uns
Boca fechada
boi ao matadouro
sem reclamar
lá vai o homem
Boca fechada
não entra vento, nem água
Nem ares de outrem
Na boca de alguém.
não entra mosquito
nem percevejo
em boca fechada
não entra mosca.
LUMINA
Boêmio, me seduz o vinho
luminoso e azulado da quimera
dentro de sua taça o meu destino
depois de uma explosão de primavera.
X
Toda ritmo, divisão e harmonia
além do éter é música e canto
ao sussurro abissal da sinfonia
réquiem
tristíssimo do pranto
x
Não portanto a vida a alma me morda
aprumo o tempo de minha lavra louca
a corda vibra e canta porque é corda
ainda mais ao vento a mão que toca
x
quando a negra e dura garra da morte
me destroça o espírito e me peita
o grito do meu ser clama a sorte
de uma nobre aventura rarefeita.
ASSOMBRADO
Viver já não me assusta
morrer não mais me espanta
o que me assombra
contudo
é seguir esse viver
por não ter vivido tudo
Tela: Maliévitch
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