UM POEMA DE JOSÉ COUTO


 










MAÍRA

 

se tua voz de anjo cantasse

do alto da pedra que flutua,

a sede do riacho seco verteria,

a cicatriz do bicho acuado aveludaria,

a fome da mata queimada floreceria. 

 

se tua voz de mel apaziguasse

no ermo do pantanal devastado,

araras-azuis, onças pintadas e sucuris

em abundância às ocas regressariam,

o sacrado seria preservado e o mito silenciado. 

 

se tua voz de sabiá laranjeira gorjeasse

na paisagem atroz das vitória-régias,

os índios, os ribeirinhos e caiçaras

em lugar nenhum de nós seriam esquecidos,

os olhos a esculpir silêncios brilhariam. 

 

o som vindo de dentro do peito

igual à reza segregando sentidos,

tingindo camadas profundas do ser. 

 

tua voz mantra sânscrito em prece

seria minha infindável oração curandeira! 

 

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