UM POEMA DE FABÍOLA LACERDA
'lah'abim e sua órbita de fogo
'lah'abim num voo à madrugada
seus lábios aduncos ferem o corpo
seus olhos camitas perfuram a alma
'lah'abim comerciante em granada
'lah'abim fiduciário em castela
reis lhe devem, perseguem-no os papas
quase sem bens, lah'abim na diáspora
em naxos 'lah'abim projeta naves seguras
antes adultera as coordenadas dos mapas
assina contratos com o sangue do pulso
recolhe seus préstimos num cemitério em praga
deuses criam homens e monstros do barro
'lah'abim é o fogo da fornalha sagrada
para demônios 'lah'abim corrompe o corpo
para os deuses 'lah'abim endurece a alma
a chama dos olhos do satã é azul clara
o mar é pesado, azul é a dúvida
o mar é pesado, seu manto vulcões apaga
azul escuro é o núcleo da vida
'lah'abim vende sedas em alcacería
'lah'abim produz de tecidos no novo mundo
'lah'abim exilado sob um pé de jenipapo
no sertão paraibano entre oliveiras
e figueiras, 'lah'abim é marrano
'lah'abim tão homem quanto golem
'lah'abim atravessador de corpos e almas
'lah'abim arrancará os olhos dos deuses
que nos devem das preces a paga
na morte, por 'lah'abim esperamos
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