DOIS POEMAS DE MÁRCIA TIGANI

 








INSCRITO EM OSSOS

 Levaram- lhe os olhos

como se arrancam raízes

Mataram-lhes os filhos

como se amassam frutos

 

.Silenciaram suas bocas

 como sepultam-se vivos

Calaram sua alma

ao interditar-lhes a arte

 

Ruas e becos são sobras

do que se pretendeu chama

Quebraram-lhe ossos

como se derrubam árvores

 

Restou-lhes a história

guardada em vão nas pedras 

inscrita em vão das memórias 

 

Restaram mulheres

de preto eterno

 -Las passonarías-

no concreto das ruas 

 

"No passarám" ,dizem elas

no translúcido das tardes 

.

Eles no entanto passam

(sempre passam)

com suas botas de ferro

 

Passam como epidemias

levadas por algum vento rubro

na avenida coberta de sangue

 

 

 

TIÊ-SANGUE

 

Leva-me saíra, pela restinga

sou também vermelha

e retirante como tu

leva-me em teu voo

seminal e retilíneo

pelos arquétipos da mata

 

Entre cantilenas de canindés

em cima do pau-d’arco

leva-me contigo, tiê-fogo

que também sou sangue

e tenho sede, muita sede

 

Cacimbas saciam securas

e entre tijucos e tucumãs

ouço um silvo reticente

 

Elevo-me sobre paturis

e em voo rasante

sinuosa e arquejante

descubro mitos desvelados

no canto das rezadeiras.

 

Desvendo o fruto verde

dos imbés e dendenzeiras

sonhos rubros de tiê-sangue

no sangue tupi das benzedeiras

 

 

 

 

 

 

 

 

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