TRÊS POEMAS DE JOSÉ RICARDO

 








ELEMENTAR

 

I.

Abalado na emboscada

Silfo-embasbacado

embolado no vento

 

II.

Salafrária-salamandra

foge no facho de chama

chispa cheirando a gás

 

 

ENCALÇO

 

sacrocascos

trilham púbis

totem & pedra

 

cervo altaneiro

enverga o prado

báculo do óleo

& vinho

 

fFaísca álacre

marfim teus ardis:

urânio & figueiras

  

A FÁBRICA OU ABC

 

platô altirressoante

serpeando ruminações-sucata

das nênias cinza-chumbo

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"A poesia parece estar mais do lado da música e das artes plásticas e visuais do que da literatura. Ezra Pound acha que ela não pertence à literatura e Paulo Prado vai mais longe: declara que a literatura e a filosofia são as duas maiores inimigas da poesia. De fato, a poesia é um corpo estranho nas artes da palavra. É a menos consumida de todas as artes, embora pareça ser a mais praticada (muitas vezes, às escondidas). Uma das maiores raridades do mundo é o poeta que consegue viver só da sua arte. Há dois mil anos, o poeta latino Ovídio dizia que as folhas de louro (com as quais se faziam coroas para poetas e heróis) só serviam mesmo para temperar o assado. E como poderia ser diferente? Como encontrar um modo de remunerar o trabalho e o ofício de um poeta? Rilke ficou treze anos sem fazer um único poema; Valéry, vinte e cinco anos! Outros consumiram boa parte da vida escrevendo uma obra (sem exclusão de outras) : Dante, vinte anos para a Divina Comédia; Joyce, dezessete, para a...
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