UM POEMA DE EDELSON NAGUES
PEQUENA SÁTIRA POÉTICA
(ou nem tanto)
a mesma mão que apedreja
é a que atira pedras.
Pelo menos tira aquela
bem do meio do caminho.
Talvez por isso o Gullar
fez poema sobre a merda...
Nada a ver com o montante.
Mas eu não iria perder
a estranha rima toante.
Não falo do “Poema sujo”,
que trata da vida e da morte.
Ah, “Morte e vida Severina”!
Se eu me chamasse Raimundo,
não me chamaria Edelson.
(E assim te enganaria.)
Mundo, mundo, vasto mundo!
Agora o querem plano.
Que plano mais absurdo!
Ora (direis) ouvir estrelas
a quem é cego, não surdo.
Os feios que me perdoem,
mas Vinícius é um deles
(ou, pior, é um de nós).
Na boa, é ou não é?
E agora, seu José?
Livros, livros, à mancheia,
na praça, que é do povo,
como o céu é dos drones.
Só a Hilst pra dar conta
do fogo que me consome.
Ah, que saudades eu tenho
da velhice que me ronda!
Pois voltar a ser criança
autoriza a rima pobre
com a palavra “esperança”.
Não vou embora pra Pasárgada,
nem pra Cuba ou Venezuela,
enquanto não expulsarmos
os vermes e ratos escrotos
pro esgoto de onde vieram.
Aqueles que aí estão
atravancando o caminho...
“No passarán! No passarán!”
Hão de pagar pelos crimes,
na cela, seu futuro ninho.
Poetas atemporais:
nem tão alegres nem tristes.
Cortante, “a palo
seco”,
em tempos de neofascismo,
a poesia resiste
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