QUATRO POEMAS DE NILTON CERQUEIRA
FAÇANHA DAS CINZAS
corredor polonês
pavimenta
passagem
multitraçada
em impasses
história repetida:
pesadelo trágico
disfarçado,
à força,
de farsa
de que matéria se faz
o ralo
por onde disseminam-se
demasiados
humanos sonhos?
fim da grande guerra
contada como primeira
sonhou-se,
das cinzas,
tripa de terra polonesa
história ampulheta
de tempo em tempo, se inverte
Hitler começou pelo corredor!
sangue escorre estreito
mortífera aventura
feito um fênix
geométrico,
geopolítico,
gerado nas mesmas
polonesas cinzas
renasce corredor
agora humanitário
reaberto ralo
por onde escorre
escória quase morta
trapos das trilhas
armadas, em tropas
homens mísseis
lançados rumo
ao alvo: refúgio
corredor polonês
(registro infantil de dor!)
se contrai mais e mais
entre pés punhos projéteis
pá de cinzas sobre paz defunta
ENTRANHAS DA ARTE MODERNA
ao contrário de Mário
corpo morto, por fim
tão atado
a são paulino
destino
quero ficar quando!
(desejo salvador)
"meu tempo é quando"
(evoé Vinícius!)
"eu morrer"
(voto postergado)
seja só
perdido dito
sob véu do palato
evanesce palavra
sob véu de maia
há nada
sob esse
céu de baía
sobra mais
que marianos
"gozosos mistérios"
isso pulsa
cidade em membros:
menos de mim
mais de vida
já em vida
doada
sexo esquivo
desliza ladeiras
Rio Vermelho
colmeia desvairada
espraia doçura
Garcia acima
Graça furtiva
ativa língua
Ondina molhada
Campo Grande
para sempre bastante
enquanto durar
Canela, do alto
desabam beijos
abaixo da cintura
enquanto de lá,
na cidade outra,
Mário cola
à mão
olho pé nariz
tripa cabeça
coração ouvido
à língua
viva ainda
na estranha cifra
HORA EXTREMA
lufada
areja
leito
do enfermo.
enigmático
hálito
último
.............
neblina
advém
vento
turvo
zune
..............
AFORISMA DO FIM
túmulo:
cúmulo da crença
de se ter
lugar no mundo
Comentários
Postar um comentário