DOIS POEMAS DE CLAUDIA SLAVIERO

 


 







INVOCAÇÃO

 

Ouça a garoa tamborilar.

Ouça a chuva trincar o espelho da lagoa; a tempestade romper todas as        

lâminas de água da Terra.

A hidrosfera derrama-se sobre o céu.

Veja! Estrelas-do-mar ascendem às galáxias; peixes-voadores juntam-se

a aves de arribação, eclipsando o sol; peixes-lanterna guiam pelas ruas,

tropéis de cavalos-marinhos.
Ondinas suicidas quebram vidraças com pedras de seus bolsos. Acordem!
Nas praias, aguardam-nos desaparecidos; cantam em arrecifes a história

de suas últimas horas.
(Arrastarão algozes para o fundo do mar, condenando-os ao exílio nos
naufrágios)                                         
Declamam a fúria dos ciclones, aos que nasceram após a passagem

do Condor.

Ouçam!

 

 

MAR I(N)TIMO

 

não invejo o faroleiro

vivendo a agonia

de ver-te chegar à luz

e zarpar na escuridade

 

tampouco a amêijoa

cúmplice de portos

– Tiro, Málaga, Lisboa

 

em ti me arrastas

– olhos de borrasca

sal nas chagas

 

em mim te embalas

– calmaria entoa

silêncio verde

 

rompido o tendão

do último cordame

– cego de maresia –

sucumbes em meu ventre

 

não somos duo

corpo e elemento

 

mas parte um do outro

vagalhão e espuma

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