SEIS POEMAS DE NILTON CERQUEIRA

 








ELEGIA PARA UM DIA EM DESESPERO

 

numa terça

em agonia

somam-se

fincadas à bala

cruzes

na favela

vila cruzeiro

 

no mesmo

agônico dia

subtraem-se

almas

imigrantes

sacadas à bala

estado de terror

no texas

 

lobo

solitário

ataca

aqui

cães

raivosos

devoram

presas

sem voz

na calada

madrugada

 

naquela terça

conta-se

um quantum

mortífero:

zera eros

total horror

 

entre o céu

de deus

e a cova-dejeto

a terra

que resta

entregue

à sua sina

pobre

devastada

(sob perversa

chancela)

à reiterada

chacina

 

EROS ATÔNITO

 

eros se alterna

entre

espaço

extenso

e tempo

contrito:

ora

árida senda

sulca

rente à história

ora

errático pingo

um instante antes

da queda

 

ESTRANHAS ENTRANHAS DO SOM

 

rumor noturno

mar espraia-se

gota sonora

cruza campo

alcança árvore

galho murmura

dissonante

ao canto da ave

enquanto escuta

acalanto da mãe

afagar em voz

criança imersa

em silencioso

sonho

 

 

TEMPORÃO

 

entre segundo e minuto

num átimo

paira pensamento pênsil:

o que se conta

como minuto inteiro

só era

há um segundo

certeza em espera

 

 

BURACO SOB MIRA

 

ouçaessefiodesomnumpio

saídodeummesmoburaco

bicocinzalongodopardal

antesporinteirocupado

detãosecassementes

semelhantesaninho

quenteondeumovo

seaquecesobmira

firmealvocerteiro

deumsócaçador

nuncaadvertido

quebemdentro

deummerovo

algoinvisível

aindaopaco

moramudo

quietooco

d'algum

som

 

ENCONTRO NU

 

tarde cinde-se

luminescente

brisa flerta

breve aroma

da nuca

tocada

pela língua

quando singra

pele

se aquece:

fulgor fugaz

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

POESIA

TRÊS POEMAS DE JORGE AMÂNCIO

NOVE POEMAS DE JORGE AMÂNCIO