UM POEMA DE LUCIANA BARRETO

 









UIRAPURU

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Para Bruno Pereira, Dom Phillips e todos aqueles que morreram (e morrem) pela Amazônia e pelos povos originários
.
.
Não é suave 
o último canto do Uirapuru
dez mil aves noturnas rebentam o vento
e rompem – inertes – o silêncio do mundo
.
: o ouro a madeira o bezerro
: a cobiça a corrida o crime

[Uma clareira se abre – e de novo –
cem mil sóis cegam os homens]
.
Ali a melodia mais terna
a floresta infinita
a língua tukuna
aspiram a flor de ayahuasca
e remoldam os corpos
e ressopram a vida
.
Do alto de nossos olhos
naquele céu tão antigo
sem mapas nem fronteiras
alongam-se os braços de água
de Bruno de Philips de Maxciel
de Dorothy de Chico de Paulino
de guajajaras de arokonas
de guaranis de yanomamis
.
Pintados de jenipapo e de tucumã
e do sangue de mil irmãos
de seus pulsos acesos
a flecha-certeira-estirada
.
Violento-preciso 
o silvo do Uirapuru
fura os tímpanos
reacende a Terra
e – comovido –
acorda os homens.

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