DOIS POEMAS DE JORGE AMÂNCIO
BAR TOLD BRACHT
Um papo misturava Nietzsche e Spinoza;
o ar fedia a álcool-intelectual,
servido à moda cowboy em dose dupla;
num gesto de culpa, ele beija a mesa
indefeso pelas argumentações etílicas.
Encontro a saudade na mesa ao lado
com um laço vermelho no cabelo,
saboreando um gim-tônica.
Entro na tônica da palavra,
transmito verbetes pré-fabricados
como cartas kafkianas,
rondando castelos de papéis.
A fita vermelha cai do cabelo,
tinge a toalha quadriculada
em sangue.
A cabeça levanta-se lentamente
cita Nietzsche
grita por Spinoza
toma o gim-vermelho
e tomba sobre a mesa
A PRACINHA DA MINHA INFANCIA
talvez soubesse,
talvez conseguisse
levantar-se
do banco da praça,
folhas de cerejeira
ganhavam o mundo.
na praça,
todos se falavam,
se abraçavam,
borboletas nasciam
de tempo em tempo.
pássaros sem graça
(jamais existiram)
choram lembranças
de outro espaço,
cerejeiras desfloradas
borboletas fantasmas
praça a pé enxuto.
o banco ficou nu.
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