TRÊS POEMAS DE JOSÉ RICARDO

 








ESBOÇO DE UM POEMA EM PARTES

 

Para Antônio Nobre

 

I.

flores em isca

o pesqueiro parte

iça velas e cinde

espinhos de corais

 

II.

a sombra teme o sol

foge ao chapéu

de palha

pele enrugada

 

III.

olhos mouros

secos de sal

suor do dia-dia

não há vez para o mar

 

IV.

o tempo e o sol

não perdoam

nem deus

só o vento lhe tira dali

 

V.

qual razão da madeira

cal morena que cobre

o rosto da vida

que passa em tábuas

 

VI.

pregos amordaçam

o ranger de tábuas

esses laços que prendem

a estranha construção

 

VII.

a água resmunga

lâmina que lhe corta

o rosto de espuma

sem horizonte

 

NOTAS SOBRE A VELHICE

 

as tartarugas

cantam

o canto

da ressurreição

entre quinas

não eretas

fecham-se

em seus cascos

corcovas

celebram

frutas e restos

de um jardim

 

 

FINADOS

 

paz de piaçava que espanta o vento

sem farfalhar de folhas no santo escondido

terra batida e o barro que sangra

chão seco como piaçava que escorre do teto

vem vento vem sem farfalhar nas folhas

sem espantar moscas, sem espalhar

as formigas que se amontoam na terra

filhas moças saídas do barro batido

vento seco de santo escorrido que sangra

no chão de barro batido fila de saúvas

piaçava e fila de saúvas sem folhas

filhas sem moscas sem santo sem sina

que morrido amontoa folhas no barro

seco do corpo esquecido que sangra

chão seco que espalha saúva

não folha de piaçava escondida no vento

o farfalhar das moscas no corpo

queda sem sina que sangra um sinal

de vento que só a saúva traz e as moscas

 

 

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