UM POEMA EM PROSA DE MÁRCIA FRIGGI





















Este sol a debruar as manhãs paraplégicas insiste em iluminar meu labirinto de espelhos – retina de trevas. É meio-dia, ainda anoitecida, espio pela fresta esse clarão de novembro. Extática, expio a culpa impelida. Julgamento sem direito a defesa. Morcegos treinam a valsa da  meia-noite. Escondo o pedido de habes corpus enquanto corvos sobrevoam escombros e porcos empanturram-se das sobras. É perigoso andar entre eles. Busco a segurança dos cantos, da meia-luz, das meias-palavras. Escorada nessa parede em meia-tinta ensaio em meia-voz. Eu – que nunca fui de meias-medidas. Não cabe em mim essa camisa-de-força e eu não caibo na vida. Por isso teço: um ponto alto, três correntes, duas laçadas e prendo o verbo, estrangulo a palavra, calo! É alta a pena e pesado o ônus. Estou em dúvida e em dívida nessa meia-vida.  Suspensa, à margem e à deriva.

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