UM POEMA DE MÁRCIA TIGANI

ANÁTEMA
No cansaço de ossos
que sustentam o mundo
tento decifrar o enredo:
Para que servem a tatuagem
e o visgo que escorre
da pele e a consome?
É fato que ombros
pendem um dia lassos
sem escolha ou direção
Como tronco ressecado
sobre pés e vísceras
asfixiados pela pressão
Em vão jogo o lastro
busco a leveza
do vértice inatingível
Os ombros sustentam tudo:
a fome, a convulsão
o vento, a pedra
Suportam a dor ventral
o estigma e o temor
da arritmia e da morte
A pele esfacela-se
sobre argamassa
que revela a essência
Inúteis são as valas
as feridas , o carvão:
o estro também é inútil
Pesam sobre os ombros
a origem do universo.
E me sinto orfã.

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