DOIS POEMAS DE JADE LUÍSA


CONFESSO DEVANEAR-ME NOS SEUS DENTES
Então você olha pras minhas maçãs
e sorri quando percebe que elas ardem
até o pé da orelha,
bem no lugar que você beijou antes de me dizer
mariposas e besouros.
Não sinto dor agora, apenas
quando eu me deitar sob as coxias do inverno.
Elas protegem minhas orelhas da sua saliva
mesmo quando eu não peço, mesmo
quando meu anseio maior é me
embaraçar no vazio entre a sua gengiva e a sua
orelha.
Agora eu falo pelas coxas.
Sigo contando histórias sobre como estou
cega pela luz da sua garganta
surda pelo som do seu tórax
muda pelo eco das suas pupilas
inerte pela lava que escorre das minhas coxas falantes
entoando elegias por detrás do seu pescoço,
como quem enrola a língua ao sussurrar seu nome.
Baixinho, para que só o desejo possa ouvir.


* * *


Quando a maresia cochicha velhas angústias
Perdoe o medo do mar, meu bem,
mas grave o vestígio da saudade,
do vinho esquecido no fundo da taça.
Crave os dentes sadios
naquela coragem ínfima que repousa como alga
no âmbar da epiderme,
quando a maré enche e lhe umedece o vazio do esôfago.
O desejo enrosca sua lã em meus nervos
e salpica sobre a pele esporos corpulentos, insaciáveis,
como se proferisse cantigas enrijecidas
de mel e sal nos meus poros.

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