DOIS POEMAS DE JORGE AMÂNCIO

 











ÁGUA AO LADO DO FOGO NO CENTRO DO CÉU

 dono da espingarda do céu veste um grande traje vermelho escarlate, nos lóbulos de suas orelhas, argolas, usa colares de contas e braceletes, elegante trança seus cabelos como os de uma mulher. caminha com dignidade, um elefante, um leopardo de olhos relampejantes, lança chama pelas narinas e fogo pela boca, cozinha inhame com o ar que sai do nariz. nuvem de chuva escurece um lado do céu, faz descer o fogo do céu. ajuda alguém com o feitiço, mata alguém com o feitiço, senta-se em cima da cabeça de um cágado, salta com agilidade no dorso de seu cavalo. um louco trovejante, brinca com brasas, combate sem ter culpa, percorre todos os caminhos desimpedidos. derruba a porta e luta com o dono da casa, destrói a casa e no lugar constrói a sua. quebra uma corrente no lugar em que bem lhe agradar, derrota duzentas pessoas na floresta e com as costas estracinha em volta, sai da guerra leve como a fumaça. seu peito queima como matagal aos pés da palmeira, sobe na paineira e a faz cair, entra debaixo da unha de quem não lhe deu o que comer. a chuva molha o louco sem lavá-lo, num avental de prata, de poderosos feitiços, entra na cidade. faz tremer os moradores do bairro, tira a mortalha de um morto para cobrir uma mulher e faz com que o velho se case novamente. dança ao som do tambor, canta 200 cantigas diante do tocador, a criança é mais do que a riqueza no lar, não existe osso que se assemelha aos dentes, difícil é carregar nas costas um montículo de terra. vida longa a todos os guerreiros. ao despertar ele se cobre de vermelho como uma moça.

 káwó kábíẹ̀sílẹ̀ ṣàngó

 

SE FRANZE O NARIZ, O INVENTADOR TEM MEDO E FOGE

 

racha o muro do mentiroso

enfia o dedo no olho dele

chão a quem é estupido

 

o elefante se esconde na neblina

o cachorro anuncia o preço da pele

 

quem ajuda a carregar tal fardo?

 

o tambor fala em voz alta

não o vimos no campo ou na cidade

 

irmão mais novo da natureza

casado com oya oxum e obá

faz descer fogo do céu

 

filho do meio-dia neto do deserto

diverte-se ao carregar uma criança

 

quem pode destruir sua boa fortuna?

 

 (xangô toma conta de minha casa

 meu leito de rosas a você pertence)

 

barbaças poderosas

um pau de fogo

seu servo é a escuridão

        

 

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