QUATRO POEMAS DE SIDNEI OLÍVIO

 









UNIVERSURREAL

 

das nuvens de relógios derretidos

despencam gotas de rubi

 

com guarda-chuva invertido

passeia sorrindo

o fantasma Dali


BRUXARIA FLORAL

 

o vento. descobri

com o susto.

uivos vibrantes.

acordes sinfônicos

dos fios de telefone.

 

o vento sem rosto.

o vento sem nome.

o vento. descobri

seu movimento

pela areia além da ampulheta.

pelas folhas amareladas

secas como nuvens

de borboletas.

 

o vento libertado.

o vento de algum vale.

o vento que causa arrepio

que mistura ao olfato

o cheiro de chuva.

o cheiro de mato.

o cheiro de estio.

 

o vento de fato.

o vento de algum lugar.

o vento detrás dos montes.

o vento de além-mar.

o vento que vai e volta.

o vento. a revolta do ar.


À FLOR DA VISTA

(Construção empírica do abstrato)

 

I

 

Seus olhos estáticos

dependurados no tempo.

Transe paralelo à procura

de um ponto infinito.

 

Ver pela primeira vez

a escritura da natureza

no hiato do invisível.

A contemplação das coisas

que realmente existem.

 

Fagulha do desconhecido.

Dúvida imensa que nada espelha.

Mas que se reconhece constante

como a sombra da manhã

atravessando a porta.

 

II

 

Trama poética que enreda o mundo

na leitura sempre imprecisa.

 

Seus olhos locupletam

acima  do mistério

o poema impenetrável.

 

Escultura versada

pelo sopro ancestral do barro.

Do cheiro de terra molhada.

Da beleza revelada pela paisagem

que habita o escuro.

 

* * *

 

em tempo de guerra com as palavras

dormir é uma falta e um constrangimento

 

essas horas que passamos longe da vida

 

se pudéssemos escrever os sonhos não lembrados

se pudéssemos converter as horas não dormidas

 

essa vida que passamos longe das palavras

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