DOIS POEMAS DE SIDNEI OLÍVIO

 







INTEMPÉRIES

Para Claudio Daniel

 

1.

flagrante murmúrio

da luz que se deita

sobre rasas manhãs

 

onde o corpo

aberto ao mundo

desperta sereno

 

e não resiste

à dura sintaxe do dia.

 

ainda se fez sentir

a rotina inquieta da voz

nesta clara manhã

 

mínimas sílabas

que não ocupam espaço

 

como a pedra lisa

ou cinza nuvem

sabem do poema safo.

 

2.

presas ao olhar

nuvens-cumulus

desvendam-se lentas

 

nos furtivos relâmpagos

e ausência do verbo

que se faz temporal.

 

3.

como dizer o silêncio

fragmento da pedra

suspensa nas mãos?

 

como dizer o corpo

na escritura do tempo

a pena, o papel, o vago?

(algo sempre a descobrir)

 

4.

na ânsia de juntar

corpos e palavras

em desalinho

 

falta uma letra apenas

para desvendar seu nome

  

MEUS OMBROS SUPORTAM O VIADUTO

 

paisagem noturna

que se vê do alto

 

reduz-se ao desejo instigante

de medir tempo e espaço

até o desfecho do chão.

 

lua que boia estática

na água correndo entre colunas

 

sustenta a velocidade do mundo

que emerge no desequilíbrio

das horas suspensas.

 

vida que mantemos

à custa de intenções

 

atravessa o olhar vazio

e faróis apressados

dos veículos na contramão.

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