SEIS POEMAS DE SIDNEI OLÍVIO


 





BOTÂNICA OCULTA

1.

na planície do vaso

rizoma retorce o corpo
até perder a terra
e ganhar desenho do espaço.

despontam insistentes brotos
num movimento aflito –

fuga de mudas que guardam
herança de possíveis milagres.

o que poderia haver no vaso
além da planta exata
em seu drama ontológico
de repartir-se para multiplicar?

2.

na planície do solo a flora nativa

(imóvel em seu encanto)
espera consciência dos seres alados –

bicos e bocas além do vento
espalhando esporos e sementes.

sob olhar incrédulo da manhã

(móvel em seu espanto)
raízes alastram anseios

no hábito de existir
entre as tramas da filogenia.

 

o que poderia haver no solo

além da evidente matéria

que faz a terra ser terra

um pretexto para a planta?

 

 

DOIS HAIKUS E DOIS DÍSTICOS

 

primeiro verão -

sobre a pitangueira florida

enxame de abelhas

 

estação chuvosa -

na orla da lagoa

martim-pescador

 

O vazio de dezembro preenche os olhos de janeiro.

A vida nos aproxima da solidão.

 

Em toda partida o mesmo gesto se repete:

vestimos a dor que nos despe.

 

LAPSO

 

não cabem estrelas

no poema branco

 

estrela é matéria de soneto

biografia do espaço

 

concreto é ouvi-las

suspensas na noite

 

presumir que nos ouça

é mera abstração




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