DOIS POEMAS DE PAOLA SCHROEDER

 


Escondia-se dentro de mim.

 

Paixão desvelava

criança estranha,

 

folia em prantos.

 

A vida estacionada

no outro do outro.

 

Hibernavam em mim

sombra, dor e morte.

 

No espelho, nas palavras

a mentira que eu me contava.

 

Era um palhaço que plantava

em toda cinza seu carnaval.

 

Ânsia pela morte dançou

sobre comprimidos

e lâminas.

 

Num ímpeto solitário

o olho brilhou vivo.

 

Desperta, a verdade

atravessou a cama

como um punhal.

 

Uma incisão tão forte

gritando: Viva!

 

A paixão provocava

a alegria que já vivia

em minhas cinzas.

 

Numa faísca sem nome,

sem face ou encanto.

 

Sou fogo, sou arte.

 

Alegria vive para além de mim

e transborda em cada vontade.

 

Ainda minto.

Oculto um ponto

que é chave e cadeado.

 

Mas se um olho

esbarra em outro

sou água cascata

rolando em reticências.

 

Quem me nota e viu sabe

que a vida tem sempre

um ponto.

 

E uma vírgula.

 

SILENTE – ALL OF ME

 

I

Nunca saberemos quando

nos colocarão em cárceres:

nossas próprias palavras.

 

Como sempre o silêncio.

Faminta como também

o silêncio do outro.

 

Pela tua pele o oceano doce

que naveguei com os dedos,

as pernas e a língua.

 

Hoje penso em meus ossos,

e o movimento infindo

que não te alcança.

 

II

“Minha fome é matéria que você não alcança.”

 

Meu mito de Sísifo

desfeito na delicadeza

das covas do teu sorriso.

 

Cortázar disse uma vez:

Não podemos escolher a chuva.

 

Bastou um sorriso

e meu avesso derrubou

todas as constelações.

 

Desdobrei

fibra por fibra

meu coração.

 

Como pó

me senti só

entre as palavras.

 

Na ânsia

eu não soube

tecer desejos,

 

fazer os pontos certos

que um dia serviriam

de rede ao teu afeto.

 

III

Mas de sobreaviso lhe digo:

 

Levo um pássaro na boca,

pois acredito na viagem.

 

Em tempo reafirmo

que me doo

para que meu ser

te sirva de refúgio

 

E quando me procurares,

e somente neste momento.

 

A língua dará vida ao pássaro

que junto das tuas pétalas

encontrará a primavera.

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